domingo, 7 de março de 2021

A cidade invisível torna o folclore visível


 

Existem obras de fantasia que são inesquecíveis durante a infância. Deuses, bruxos, vampiros, animais falantes, super-heróis... há uma gama imensa de possibilidades disponíveis no mercado literário e audiovisual.

Os brasileiros são consumidores vorazes dessas obras, o que demonstram ser um atrativo para as grandes produtoras de filmes, editoras de livros e quadrinhos traduzirem e venderem seus produtos no país. Por exemplo, a saga Harry Potter de livros e filmes completou, ano passado, 20 anos no Brasil, e tem se renovado a mais uma geração. Seguindo esta mesma lógica, há exemplos como: O Senhor dos Anéis, Crônicas de Gelo e Fogo, Jogos Vorazes, Crepúsculo, Saga Os Vingadores, Saga X-men, entre outros.

Acredita-se que as histórias de ficção/fantasia internacionais ocupam um espaço tão grande no cenário nacional que as histórias nacionais acabam sendo ofuscadas por elas.

No entanto, em meio a tantos produtos internacionais surge uma série de investigação baseada na cultura nacional que está se destacando na plataforma Netflix: Cidade Invisível.





A história foi criada pelos escritores Raphael Draccon e Carolina Munhóz. Ela começa com uma queimada em uma floresta localizada ao lado da Vila Toré, uma comunidade de pescadores, no Rio de Janeiro. O acontecimento começa a ser investigado pelo policial ambiental Eric (Marco Pigossi) e sua parceira Márcia (Áurea Maranhão). Ocorre que a sua esposa, Gabriela (Julia Konrad), uma antropóloga que lutava para transformar a região em área de proteção ambiental, morre no incidente. Com a sua filha Luna (Manu Dieguez) para criar, ele se adentra na investigação e acaba conhecendo um misterioso mundo de lendas do folclore brasileiro.

A série instigante prende o telespectador do começo ao fim, tendo um roteiro bem consistente. Ágil, ela já resolve o arco em poucos episódios, deixando uma brecha para a segunda temporada. Marco Pigossi entrega um protagonista carismático e cheio de faces, sendo corajoso e frágil ao mesmo tempo. O elenco coleciona excelentes atuações de Alessandra Negrini, José Dumont e Fábio Lago. Vale citar que a fotografia, a trilha sonora e os efeitos especiais são de altíssima qualidade.

É importante ressaltar que essa série traz consigo a importância da valorização do folclore nacional. “O folk-lore, termo designado por William John Thoms, tem como significância o entender processos de cultura do conhecimento de um povo, levando em conta a perspectiva de Megale (2003, p. 11), “[...] folk, significando povo, e lore, que quer dizer conhecimento ou ciência. Portanto, o folclore pode ser definido como ciência que estuda todas as manifestações do saber popular”.




Pode se dizer que a série não traz consigo somente histórias, como também um conjunto de resgastes históricos importantes para que a atual geração perceba fontes de parte de suas raízes. Esses conhecimentos precisam ser estimulados na escola, pois permanecem vivos com a passagem do tempo. É um dos modos de entender a evolução e os aspectos culturais que constituem o Brasil.

Um povo sem folclore, é um povo sem cultura. Sem identidade. Ele cria um entendimento para as festas, comidas, hábitos e crendices.

Visto que cada vez mais jovens têm criado contas na gigante do streaming Netflix, o impacto dessa série gera um intercâmbio de saber em várias partes do Brasil, levando as lendas populares para o conhecimento das novas gerações. O traço da oralidade que é exercido pela contação dessa mitologia é substituído pela linguagem televisiva de série. Criando-se um arco narrativo dramático englobando temas atuais como: preservação ambiental, problemas institucionais do dia a dia do policial ambiental, conservação de valores e tradições culturais e, economia popular versus capitalismo selvagem das grandes empresas.

Além disso, as manifestações folclóricas são bens nacionais tão importantes que compõem o patrimônio estrutural do país, e por isso são protegidos por lei.

Segundo o advogado Antônio Silveira Ribeiro dos Santos: “Tratam-se assim de bens imateriais difusos de uso comum do povo que podem e devem ser protegidos principalmente pela ação civil pública (Lei 7.347/85), constituindo-se em dos nossos mais ricos patrimônios, de maneira que deve ter a atenção do poder público e da coletividade para que seja preservado, cultuado e respeitado, bem como deve ser protegido judicialmente se preciso.”

A Netflix tem enxergado um promissor mercado de séries brasileiras e anunciou que irá investir 350 milhões de reais na produção de novos conteúdos. Isso aumentará muito as opções de séries e filmes nacionais que já estão crescendo constantemente.

Após terem sido elencados a importância da valorização do saber popular nas produções audiovisuais, o que se espera é que esses trabalhos sejam cada vez mais divulgados e aplaudidos. Pois assim as produtoras percebem o seu potencial lucrativo e a cultura nacional torna-se tão valorizada quanto a que é importada de outros países.




Confira o trailer da série:











O ENSINO DO FOLCLORE NAS ESCOLAS: A PERSPECTIVA DE DOCENTES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Fábio Kravec Gonçalves1 - UNESPAR Edilene Hatschbach Graupmann2 – UNESPAR https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/25878_13431.pdf

Crítica: “Cidade Invisível”, Netflix Bruno Giacobbo https://diariodorio.com/critica-cidade-invisivel-netflix/

7 sagas de filmes para você maratonar durante a quarentena:

Wellington Ricelli https://poltronanerd.com.br/filmes/7-sagas-de-filmes-para-voce-maratonar-95773

34 provas de que “Harry Potter” mudou o mundo para sempre

Gisele Hirata: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/34-provas-de-que-harry-potter-mudou-o-mundo-para-sempre/ https://super.abril.com.br/mundo-estranho/34-provas-de-que-harry-potter-mudou-o-mundo-para-sempre/

Artigo: A importância e proteção do Folclore: https://tribunapr.uol.com.br/noticias/importancia-e-protecao-do-folclore/